O Outro Dentro de Si Mesmo como Testemunha Solitária: O Olho sem Pálpebra









Se fizermos perguntas ingênuas, teremos respostas fáceis e de pouca profundidade. Isso serve para qualquer ramo do conhecimento ou pesquisa. O meu propósito é que façamos perguntas difíceis, a partir da explicitação de situações muitíssimo difíceis, abordadas por ângulos-de-observação [e indagação] extremamente peculiares [e também “difíceis”, no sentido de “menos palatáveis”]. Existe uma profusão de indagações extremamente rasas feitas em Psicologia, e disso não precisamos mais. Seria trazer “mais-do-mesmo” a este ensaio, como ocorre em uma série de livros de auto-ajuda [que ajudam mais a quem os escreve do que aos que os leem], enfatizando o ponto de vista sistêmico [refiro-me ao ponto de vista que “nega a própria doença entranhada no sistema vigente” e não a uma categoria do pensamento psicológico que aborda as coisas “em blocos sistêmicos”] e fazendo tabula rasa de situações individuais que sequer eles sonham suspeitar. Estou chamando os livros de Psicologia disponíveis e vendáveis, com todas as suas análises e proposições, de rasos, ralos e superficiais?! Estou. Estou dizendo que eles fazem perguntas ingênuas e que não passam nem nas bordas ou circunvizinhanças dos problemas e questões abordados neste ensaio?! Estou. Estou dizendo que esta proposta é mais aguda, densa, nuançada, difícil, menos palatável, mais problematizadora e complexa do que as fórmulas vigentes, que enfatizam banalidades como “auto-estima”, “como otimizar [linguagem de banqueiro e de gestores de pessoas] a própria imagem e comunicação para efeito de sucesso interpessoal-profissional?! Estou. Estou chamando-os de rasos, pueris, enfadonhos, “miméticos” de qualquer coisa que minimamente se assemelhasse à verdadeira atenção e capacitação empática. São pessoas que ensinam “truques”, afinam os leitores para poses sociais mais eficientes, dão uma polida nas personae [máscaras sociais], ensinam as regras do jogo vigente, não importando o quanto o jogo valorize a casca, a aparência, o esmalte, a mentira, a pose e a impostura. E que nada disso tem a menor relação com qualquer coisa ligada à cura do ferido narcísico grave, nem com auto-conhecimento genuíno. Isso tem a haver com “otimização do desempenho social numa sociedade doente”. Se este é o objetivo de certos terapeutas ou analistas, eu dou braçadas largas na direção contrária a tudo isso. A Revista Isto É, em sua edição nº 2200 ilustra perfeitamente este modo de “eficiência-interpessoal” com um substrato indisfarçavelmente cínico [ao modo do Príncipe, de Maquiavel], principalmente nas dicas que oferece no aspecto “apresentação pessoal” para a pessoa “se dar bem” [a expressão é minha, mas a falta de profundidade da abordagem faz jus exatamente a esta expressão] nas interações pessoais-profissionais: seja um camaleão [apresente-se segundo contextos e ocasiões], “peque pelo excesso” [em relação a adornos, lenços, brincos, joias, gravata, terno, adorno de cabelo] e vá subtraindo este excesso segundo as conveniências; "conceba a mensagem a ser passada a cada evento do dia antes do evento”, ou seja: faça seu ensaiozinho mental em casa, antes do jogo de cena interpessoal-profissional. Maquiavel já sabia dessas coisas todas, e os políticos e agentes corporativos aplicam-nas, inescrupulosamente, à exaustão. São “bem-sucedidos”, sem dúvida. Mas aqui não tratamos de “autoconhecimento” ou avaliação de personalidade através de “índices de performance” [algo atrelado, por conveniência de mercado, ao que Daniel Goleman chamou de Inteligência Emocional] numa sociedade eticamente degradada. Isso não é autoconhecimento: isso é otimização da mimesis [imitação, sintonização com o outro por sintonia gestual e “protocolo reativo de respostas pré-configuradas”], para benefício interativo-social. Leiam O Príncipe de Maquiavel, que é mais sincero.

No capítulo anterior, coloquei algumas questões importantes sobre comunicação, isolamento, intimidade ou ausência de intimidade, "Solidão" x "Diálogo com os símbolos da cultura" numa abordagem preliminar, ilustrando algumas das questões que podemos fazer a respeito, tendo em vista este vértice de indagação. Neste capítulo, pretendo avançar um pouco nesse mesmo vértice exploratório da dor humana. A ênfase da frase está na expressão “dor humana”. Que espécie de dor é essa, tão abaixo e subjacente a todas as colocações populares sobre “auto-estima” e outros tópicos mais em moda, como “a otimização da [mimese: imitação] da empatia social”, o tal do coeficiente/quociente “performático-interativo”, muitas vezes tomado por Q.E., ou “Quociente Emocional” ou, ainda, “Inteligência Emocional” (sic). Vamos olhar, um pouco mais, o que existe “abaixo dessa camadinha de esmalte de conhecimento psicológico”.

Imaginemos as seguintes situações. A primeira delas: uma criança de quatro anos, que é levada desde os dois a sessões em terreiros afros mal dirigidos, onde é exposta a demonstrações circences de entidades que "provam sua presença e força" fazendo os médiuns pisarem em cacos de vidro, exemplificando, assim, sua “regência” sobre os cavalos. Ou a beberem dois engradados de cerveja [ou duas garrafas de pinga, no gargalo], sem ficar embriagados. Ou a fazerem manipulações com fogo, de vários tipos, sobre a pele. Isso tudo conjugado com o clima geral: paramentos, roupas de “orixás” e outros trabalhadores de campo: boiadeiros, marinheiros, baianos, além das sessões de Exus e Pomba-Giras [é claro que as últimas sessões, as da esquerda, são feitas em separado]. Estaríamos falando de um Centro/roça/tenda mal administrado, que fique bem claro, e trabalhando num esquema de Umbanda Traçada ou Umbanda Cruzada [e mal cruzada] com Candomblé. Posso falar sem pudor, porque conheço muito dessas religiões de matriz afro, muito sobre o desenvolvimento de seus médiuns [cavalos ou “burros”, na Quimbanda], além de conhecer dezenas de terreiros de todas as feições. Então, não se trata de nenhum preconceito religioso, como alguns apressados poderiam me imputar. Ocorre que, na vivência dessa criança em questão [e estamos especificando uma situação, e não “tergiversando sobre generalidades”, ou fazendo “juízos genéricos de valor”], ela viu tais cenas desde muito cedo e, pior, aprendeu a conviver com o medo da mãe, explicitado à criança, de “levar surras dos santos” por não cumprir corretamente obrigações, ebós ou trabalhos diversos, além de outras falhas ritualísticas. Tal mãe expôs essa criança, sua filha, desde os dois anos a conviver com a “aura de pavor” da própria mãe, além de ver o desfile de “roupas coloridas” [palavras dessa criança] no guarda-roupa materno, todo este vestuário presentificando [para a criança] o mesmo halo de medo da mãe também em casa e no quarto onde dormiam as duas.

Acompanhem-me. A criança, desde os dois anos [mas “mais consciente do fato” a partir dos quatro] vê a mãe [ouve a mãe e é acordada pela mãe] ter pesadelos, chorar, ganir, se arranhar, jogar-se ao chão, após pesadelos terríveis onde se vê “cobrada” e se sente “surrada pelos santos” cultuados no terreiro de sua escolha [da mãe, não da filha; à filha é imposta essa infeliz escolha da mãe]. A filha, frequentemente, é acordada pelo choro da mãe, pelos pesadelos da mãe, é solidária nesse choro [e arrastada a ele, na verdade] e acaba sendo compelida a “cuidar do medo da mãe”, acarinhando-a, “confortando-a” do jeito que pode: deitando-se ao lado da mãe, alisando seus cabelos, pedindo que ela [mãe!] “não tenha medo” [!], quando a própria filha, ainda criança, está “aterrorizada por dentro”. Não encontrarão nenhum exemplo assim em nenhum livro que trate de “auto-estima”, isso eu lhes garanto. Vejamos o que aconteceu aqui: houve uma inversão de papéis, muito cedo. Demasiado cedo. A filha se vê compelida ao papel de cuidar da mãe. Ela tem de ser “mãe de sua mãe” e numa área extremamente sensível [nada de Édipo na jogada, café pequeno perto disso]: a área do “Terror Sagrado”. Quando falamos da função de rêverie da mãe, enunciado proposto por Wilfred Bion querendo dizer da necessidade primária da criança de ter “suas necessidades captadas empaticamente pelo cuidado-atenção maternos” [sendo a função de rêverie “o sonhar o sonho da criança, para poder ajudá-la”], o que Winnicott coloca como “estado [natural] de preocupação materna e holding [cuidado] pelas necessidades da criança”, e aquele olhar que “espelha as necessidades da criança [não da mãe!] para que esta criança possa se sentir reconhecida e atendida, aos poucos” [e mesmo frustrada em seus caprichos, o que é salutar também, após identificação-reconhecimento de suas necessidades], aqui, no exemplo dado, temos uma situação absolutamente inversa e precoce: “a criança é levada [por uma série de tristes conjunturas e escolhas alheias a si mesma] a sonhar os pesadelos da mãe e a atender [!] às suas necessidades [da mãe!] frente ao Terror Sagrado”. Percebem como essa demanda é bastante superior ao estágio de desenvolvimento dessa criança, dada a um ser em desenvolvimento de forma muito precoce e massiva, “esmagando-o”. Ou quase.

Este exemplo é bastante útil, necessário até, para muitas pessoas [inclusive do meu ramo profissional] que vivem a me dizer “não compreenderem o que possa ser o Numinoso Sombrio”. Sim. Acredito, de fato, que não compreendam. Mas, a partir desses passos milimétricos de explicitação dos [maus] passos que tendem a evocar [constelar] para a ambiência interna da criança, e desde muito precocemente [frise-se], essa realidade vivida do tal “Numinoso Sombrio”, espero que a coisa fique mais clara para meus colegas. Vejam vocês a inversão das fórmulas Winnicottiana e Bioniana do desenvolvimento saudável, patrocinado pela mãe: em vez da mãe espelhar e atender as necessidades [sentimentos, dor, fome, medos, etc e tal] da criança, a criança precisa zelar pelos pesadelos e terrores da mãe. E mais: abafando seus próprios medos e terrores para dar cabo dessa tarefa. O “dizer seus medos” passou a ser “interditado” a ela, dadas as conjunturas e necessidades da mãe, transbordadas à criança. E o que lhe soa, agora [vaga mais contundentemente], como um “Interdito” [Aquilo que se passa "dentro dela": seu mundo sombrio de medos próprios e introjetados], logo passará a ser um “Indizível”. Afinal, a quem ela contará o que “mal entende, e teme tanto”? À professora da creche? Ao pai que não tem? Às crianças de sua idade, se lhe faltam palavras e a confiança de que "outra criança possa vir a protegê-la"? Ao “pai de santo” de sua mãe, fonte de toda a confusão? Nenhuma dessas alternativas é minimamente factível. Analisemos cada uma das hipóteses da criança encontrar socorro em cada uma dessas instâncias: 1) Nenhuma criança poderia protegê-la; 2) o pai de santo é uma fonte primária de medo para a própria mãe, o que dirá para a filha desta que tenta confortá-la; 3) a professora da creche ou escola costuma passar ao largo de "opções religiosas" ocorridas na família da criança; até se alguma criança dissesse ter visto "ritos sacrificiais humanos", de modo balbuciante, a professora, costumeiramente, não lhe daria ouvidos. Recentemente, vimos, nos noticiários, de uma criança apresentar munição de arma de fogo colocada em seu estojo escolar. Reação da professora: "isso não pode estar acontecendo" [cifra: "prefiro não ver o que está diante dos olhos"; "não olho em sua luneta, Galileu, isso não existe!"; "recuso-me a crer no que vejo, portanto 'opto por não ver'". Isso ocorre da mesmíssima forma como a escola costuma ser "lenta"/ pusilânime para detectar violências domésticas nas casas de seus atendidos. Não querem "comprar briga", sejamos sinceros; não querem se indispor com seus clientes. Tanto isso é verdade que a denúncia precisa se transformar em compulsória, precisa "virar lei" para ser efetivada, o que demonstra a absoluta falta de iniciativa/brio por parte dessas instituições. O que aconteceu em tal escola onde o achado da criança soou "improvável"/inacreditável aos olhos da professora e de seus superiores? Houve um "impensável (sic) incidente" [para olhos que preferiram não ver o indício prévio] envolvendo uma criança baleada na mesma sala de aula, e outra criança atiradora-"incidental". A partir do "imprevisto", ato contínuo, testemunhamos a instituição se empenhando em fraudar/lavar a cena do crime [pois que houve crime], para também salvar/lavar sua "honorabilidade". Que coisa edificante, não te parece, amigo leitor?! E a criança "sabe disso", desses mecanismos de esquiva dos adultos, intuitivamente [conhece o "desvio calculado do olhar" comentado por mim no capítulo IX deste ensaio]. Mais tarde, a criança aprenderá muito mais. Saberá, por exemplo, que o mundo dos adultos, frequentemente, é o mundo da mentira com papel timbrado. Sim. Por enquanto, ela só sabe que "muita coisa não se pode dizer, porque ninguém quer ouvir, ou finge não ver". Ou, até mesmo, "não consegue lidar". A criança percebe que o adulto tem medo do que ela vê, sabe, ouve, escuta, sonha, pensa, e que tem, inclusive, "medo do seu medo" [seu=da criança]. E que o mundo dos adultos inclui uma lógica sofisticada para driblar tais assuntos, fatos e "revelações infantis". Há muito adulto padecendo até hoje por ter descoberto, na própria pele, tais segredos do mundo dos adultos, em idade demasiado precoce. Viram muito, muito fundo e muito cedo. Para azar deles. Colin Wilson captou todo este quadro de coisas [ou escolheu dizê-lo], de forma inimitável, em seu brilhante: "O Outsider", publicado quando ele tinha 25 de idade. E uma bagagem intuitivo-experiencial que parecia cobrir séculos e séculos. [A obra está citada no capítulo XI deste trabalho: "A Questão Narcísica da Irrealidade"; o leitor é convidado a conferi-lo].

Desta forma [e por razões multifatoriais, como elencamos], esta criança-exemplo ficou “emparedada em seus terrores a partir de dentro, em função das condições ambientais dadas [condições de fora] e da natureza desses mesmos terrores [fora-dentro]”. O que veio de fora, agora, ficou lacrado a partir de dentro: amplificado pelo Numinoso e reverberando nessa nova clave. Não existe chave disponível ou localizável para que a criança administre [ou minimamente tente nomear] este Terror. Não há via de abordagem que faculte a elaboração/metabolização deste Terror tornado Indizível e Inominável, por todas as variáveis dadas; infinitamente mais lesivo, assustador e grave do que qualquer interdito edípico-sexual [mais grave, inclusive, por ser mais atípico, pelo fato da criança não encontrar por perto outras crianças com fantasias e dúvidas análogas, o que não ocorre com a tipicidade do Édipo; exatamente por isso, a constelação edipiana é muitíssimo mais previsível e "localizável", na clínica e nos construtos teóricos que a subsidiam e fundamentam]. 

Desde Freud, aprendemos a escutar a criança falando "bunda", "cocô", além de aceitarmos seus termos e perguntas para os órgãos genitais [termos esses tirados do mundo dos adultos, das letras de funk carioca, ou inventados por elas mesmas, como neologismos infantis, tanto faz]. Isso, agora, é menos problemático. Falta-nos a coragem maior de escutarmos [de fato!] dúvidas e terrores muito mais nuançados e sofisticados. Falta-nos aprender a escutar a problemática infantil em outro registro: não o do desejo incestuoso, curiosidade, dúvida, etc; mas o registro do Terror, muitas vezes expresso na "infelicidade muda e petrificada" e "naquilo que nem se ousa perguntar". No choro baixinho da insônia noturna e no medo de dormir e de ficar acordado no escuro: medos simultâneos [!]. Para recuperarmos o ponto de origem deste ensaio e sua razão-de-ser, devemos rever o seu capítulo inaugural: "Segredo e Proscrição: A Cápsula do Medo". Está na hora da classe profissional de curadores de almas e psiques lesadas [analistas, terapeutas, psicólogos] se aterem mais ao atípico, não-edipiano. Porque, só então [e só assim], entenderão a magnitude, especificidade e singularidade desse tipo de ferida que engendra os distúrbios relativos ao “encapsulamento a partir do Indizível” [muito além-aquém do Interdito]. Nisso reside a chave de compreensão de muitos desenvolvimentos encapsulados, como o dos esquizoides, por exemplo.

Há muito de interessante a ser dito aqui, antes de avançarmos ao segundo exemplo-situação. Fairbairn já sabia que os pacientes classificados com possuidores de personalidade esquizoide, quando não demasiadamente regredidos, são os mais perspicazes quanto a todos os processos mentais do psiquismo humano, inclusive os de defesa do próprio analista. Sim. Seu olhar é o mais acurado dentre todos os tipos psicopatológicos classificados, dada a sua percuciência do olhar. Isso quando não demasiadamente regredidos, frise-se. Mais acurado do que os do neurótico médio ou da pessoal dita “normal”. Alexander Lowen diz que, quando os esquizoides se atribuem algum dom secreto ou conhecimento-vivência especial, eles estão de certo modo certos quanto a isso, o que se descobre ao longo da análise. Nathan Schwartz-Salant diz que o ferido narcísico e o borderline são peritos em desespero, e capaz de flagrar qualquer sombra deste desespero no próprio analista. Eu diria que o ferido narcísico [esquizoide, sobretudo, e borderline/limítrofe, de forma mais caótica] é um especialista em medo e mentira, nele mesmo e nos outros. Álvaro Ancona de Faria faz o seguinte comentário em sua monografia para obtenção de título de membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, “Transtorno de Personalidade Borderline: Uma Perspectiva Simbólica” (2003):

“Outra característica que comumente chama a atenção de todos os profissionais que atendem ao paciente borderline é uma sensação de invasão permanente da psique do analista, muitas vezes como se este “estivesse nu” atendendo o paciente; ou mesmo a imagem de ser radiografado por ele o tempo todo. Em vários momentos o paciente é capaz, inclusive, de ter um discurso adivinhatório, principalmente quando faz um comentário referente a uma questão sombria do analista.

Este processo funciona como se o paciente tivesse a capacidade de promover uma “varredura” na sombra do analista, com acuidade para encontrar certos pontos de tensão e denunciá-los, às vezes de forma tão inconsciente que não se dá conta deste aspecto profético ou oracular de sua intervenção. É uma via de acesso diferente, de relação inconsciente/inconsciente que ocorre, no nosso ponto de vista, dentro do self relacional inconsciente, numa relação sombra do paciente - sombra do analista.” [O itálico é do autor].

Bem, antes de dizer as coisas de modo ligeiramente diferente, tenho de validar, em linhas gerais, todo esse conjunto de análises. O desenvolvimento infantil com proximidade com o sombrio parental-ambiental e, por decorrência, com o Numinoso Sombrio constelado dentro do sujeito ferido [como um Outro dentro do Self, a observá-lo sem nenhuma testemunha externa, nenhum interlocutor disponível] cria, mesmo, tal acuidade. Alguns desdenharão desta acuidade, aqueles que nunca vivenciaram tais impasses e o padrão de desenvolvimento destes feridos. Invejam-nos os “dons” e por isso desdenham a possibilidade dos mesmos. Mas, curiosamente, fazem vista grossa para o “alto custo da aquisição desses dons de rastreamento sombrio” [interpessoal-ambiental].

Winnicott já falava de um processo massivo e precoce de catalogação de dados por parte dos feridos precoces [também esquizoides], como uma estratégia de defesa de “detecção de problemas-ameaças ambientais, para posterior resolução intelectual-factual dos mesmos”. Enquanto a criança não tem capacidade dialogal em seu meio e recursos motores ou reativos para fazer frente a tais ameaças, terrores e invasões, a criança desenvolve, precocemente, uma intelectualidade de catalogação de problemas e sinais de ameaças. Um “faro para a sombra em torno”. Esse é um mecanismo quase-mediúnico de sobrevivência. Algo muito mais sofisticado, sutil e difuso do que a “leitura corporal-facial” que o Dr. Lightman [“homem-luz”, “aquele que ilumina –e desmascara –as sombras”] faz no seriado televisivo “Lie to Me”. A gênese desse mecanismo, nos esquizoides e borderlines, é, do ponto de vista de seus desenvolvimentos pessoais, defensiva, acuada, em meios hostis e sem interlocutores-mediadores de seus conflitos. Além disso, é permeada por “reflexos de sobressalto”. Os feridos narcísicos menos graves têm um padrão distinto. São aqueles chamados, clinicamente, de fálico-narcisistas: os narcisistas pró-ativos, exibicionistas e que “dão certo” [socialmente falando], muitas vezes. Alexander Lowen, por exemplo, assim os designa [acompanhando certa tradição clínico-psicanalítica], com uma curiosidade adicional: também se auto-designa como “fálico-narcisita”. Os fálico-narcisistas [e aqui falo em termos mais gerais, sem grandes nuances] também costumam ter o tal “faro subliminar” nas interações sociais, mas é um faro “menos maldito-assustador”. O faro do fálico-narcisista é o do bom vendedor e apto leitor de reações que suscita diante da imagem que apresenta [a persona social], exatamente o tipo de pessoa que não precisa aprender as lições dadas pela Revista Isto É, na edição supracitada. Não precisa de aulas para saber persuadir, ser sedutor, saber influenciar, a partir das tendências latentes que enxergam no interlocutor e ambientes. Assim, sabem influenciar. Essas características nada têm a ver com o mérito de suas intenções. Podem ser boas ou más. Assim como esquizoides e borderlines podem ter mais ou menos ética. Que isso fique bem claro. Estamos analisando índices caracterológicos a partir de pontos-de-partida nos desenvolvimentos individuais de sujeitos feridos precocemente, em graus variados. A matéria da Isto É mostra um uso instrumental-“esperto” de habilidades de interação que todo narcisista fálico intrinsecamente conhece. Sua máscara social [persona] foi bem desenvolvida, e ele sabe transitar pelo mundo de aparências [a dita sociedade normal, sendo a normalidade por mim definida como “a doença média socialmente aceita”; hoje em dia, ser “narcisista”, neste sentido, é confundido com “segurança”, “autoconfiança”, “autoestima”, socialmente falando]. Em termos gerais, os fálico-narcisistas são muitíssimo mais habilidosos no trato social, possuem um histórico mais ambivalente em relação à proscrição/isolamento/abuso, geralmente tendo sofrido humilhações e negligências por parte de alguns protagonistas de suas infâncias, e recompensas/prêmios/reparações parciais por parte de outros. Podem ser, ambivalentemente, proscritos e troféus para o ambiente parental, negligenciados em aspectos importantes de seus selves, ao mesmo tempo que são “exibidos” em outros aspectos, pelo mesmo ambiente primário: como “trunfos” /”extensões” de habilidades desejadas por seus próprios pais/ambiente cuidador. Frise-se que isso também é um abuso ao self da criança; isso é um uso parental/ambiental indevido. Podem ser proscritos por uns, sob certos ângulos, e queridos/ apreciados/exibidos por outros, sob outros ângulos. Não são nem “gatas borralheiras absolutas”, nem “patinhos feios massivamente tomados como tais”. 

Os esquizoides, pelo padrão massivo e maciço de suas vivências, são mais defensivos, desastrados socialmente, reservados, desconfiados, solitários, anti-sociais, nada fulgurantes em seus raros vínculos [“embotados”, low profile] e muitíssimo mais acurados neste sentido quase-mediúnico supracitado por Ancona de Faria: na habilidade “instintiva”da “captação da sombra do outro” [e/ou do ambiente onde se insiram]. Os esquizoides cresceram mais sós. Entenda-se: sem qualquer interlocutor disponível para seu tipo de demanda, pela “dupla falência parental” e dos ambientes cuidadores, sejam eles: escola, igreja, família extensa, ou outras instituições negligentes [“nós nada vemos de peculiar em você; nós, na verdade, nada vemos em você”] ou agressoras/invasivas [“nós te retaliamos e te isolamos ainda mais por você ser tão diferente/atípico”]. Este é o padrão, em linhas gerais. Os borderlines [limítrofes] são mais flagrantemente impulsivos, mais passionais em suas manifestações de (des)afeto, “fazem mais barulho”, demonstram mais suas instabilidades [ao modo dos que possuem transtorno bipolar, muitas vezes um diagnóstico psiquiátrico que se superpõe a este outro mais caracterológico]. Mas estes também sofreram feridas sérias. 

De qualquer maneira, em todo ferido narcísico grave [sobretudo esquizoides e borderlines], faltou continência ambiental [o “holding” de Winnicott], “espelhamento” da criança [o olhar que reconhece e atende às suas necessidades] por parte do ambiente parental [o rêverie de Bion e mais uma vez, o holding de Winicott, além da “mãe boa o bastante” / ou mãe-ambiente “suficientemente bons”]; houve abuso moral, emocional, negligência, abusos físicos de várias ordens [castigos indevidos, privações sádicas, abuso sexual], invasão ambiental, privação ambiental, abusos verbais, negligência, isolamento massivo e proscrição ambiental, bullying escolar, medo religioso infundido por instituições ou educação parental, cada um desses elementos [ou vários deles] em graus variados, mas significativos. Fatores biológicos também têm seu peso, claro, desde partos absolutamente traumáticos, além do quantum de doenças infantis [e atenção/desatenção dadas a essas doenças], e outras suscetibilidades biológicas. Mas, tudo isso somado e ponderado, há uma gama suficiente de autores e pesquisas que apontam para gradientes inauditos [atípicos, em relação à neurose média, edipiana] quanto à frequência, prolongamento, severidade/intensidade, relação da criança com o perpetrador dos abusos [sejam eles de que ordem], manutenção dos segredos quanto aos terrores/abusos por falta de interlocutor [por vezes, a criança sabendo que será culpabilizada por esta revelação: seja um temor religioso, seja a acusação de um parente molestador, por exemplo; ou será proscrita/ignorada, “punida pelo silêncio-isolamento”, após tocar num assunto-tabu, para seu ambiente primário]. São todos esses fatores que “criam” um grande ferido narcísico: esquizoide, esquizotípico, esquizofrênico,  borderline; fatores estes somados ao elemento quase imponderável que costuma ser qualificado como "vulnerabilidade orgânica". 

Kernberg, Kohut, Livesley, Guzder, Paris, Van der Kolk, McClellan, Bowlby, Zaranini, Charlton, Gunderson, Andre Green, Nathan Scwartz-Salant, Ancona Lopes, além dos autores que cito comumente [Winnicott, Bion, Grotstein, Fairbairn] entendem o peso da ferida precoce pré-edípica, cada qual com suas nuances. Ainda que alguns a misturem com a edípica [principalmente os que escreveram na década de 40/50, sob a égide de um Édipo mais precoce, como apontado por Melanie Klein]. Um sumário de referência de muitos desses autores se encontra no trabalho citado de Ancona de Faria [disponível na web, em formato PDF], por isso me eximo da necessidade de aportar tal bibliografia no corpo deste ensaio, para não onerá-lo com demasiadas referências. O fato é que, neste meu próprio trabalho, pretendo aportar algumas nuances novas e um detalhamento todo particular a esta leitura coletiva. Trazer meu tom ao mosaico disponível. Para aqueles que gostam de estatísticas, alguns desses autores supracitados até quantificam o índice de ocorrência de alguns desses abusos em indivíduos feridos-graves. No caso de borderlines, Van der Kolk, Paris, Livesley, McClellan até quantificam a incidência de alguns desses fatores [invasões ambientais, abusos e privações], no histórico de pacientes com este diagnóstico. Então, não é algo que possa ser minimizado, sequer minimamente, por qualquer olhar clínico; a não ser que este [olhar] esteja pré-compromissado com "a exclusão dos dados factuais como 'etilogicamente irrelevantes'".

Quanto ao pouco reconhecimento de muitos analistas e/ou psicólogos sobre essa dimensão tão enfatizada por mim, a do Numinoso Sombrio, transcrevo aqui outra curta passagem da monografia de Álvaro Ancona de Faria, bastante “enxuta” e exemplificadora do que venho pretendendo ilustrar em todo este meu esforço de apresentação de “dinâmica de casos” fundamentado em um corpus teórico. Parte dele, desenvolvido a partir desse trabalho. Eis a passagem em questão:

“O paciente borderline está num estado de total identificação com a Sombra [maiúscula do próprio autor, já que não se trata de uma “sombra qualquer”]. Se vê como alguém diferente de todas as outras pessoas; não vê essa diferença como a sensação de ser único, de ter características que são individuais, mantendo, porém, a pertinência com o restante da humanidade; pelo contrário, vê essa questão como uma condição só sua, que o condena pela impossibilidade que sempre sentiu de identificar-se com o outro e, portanto, comunicar e dividir. Isso o leva a uma experiência de solidão abissal, que novamente o leva a essa identificação com a Sombra, num processo reverberante. [Observação minha: por refluxo libidinal do contato com o outro, e pelo incremento da “auscultação do Outro Sombrio dentro dele mesmo”; a única testemunha, numinoso-sombria de sua condição é este Outro dentro dele mesmo que, ao mesmo tempo, o observa e o acua; triste paradoxo].

É como se na patologia borderline ocorresse uma identificação delirante inconsciente entre um ser humano e a imagem numinosa (Schwartz-Salant, 1997, pag. 104). Essa identificação, contudo, ocorre somente com o numinoso negativo, o lado sombrio do numinoso, o que vai ter suas raízes nos estágios mais precoces do desenvolvimento de sua personalidade.”

Este trecho poderia ser todo sublinhado. Mas, por ser curto, posso comentá-lo, brevemente. Aqui, está apresentado o Numinoso Sombrio de que tanto falo, em termos bastante similares aos meus. E há a ênfase dele, Ancona, de tal âmbito numinoso se “constelar” para o indivíduo em estágios muito precoces de seu desenvolvimento. Isso é básico enfatizar. Essa identificação delirante [ou “diálogo perpétuo” com o Numinoso Sombrio] poderá se tornar um “plano de fundo” para todo o processo ulterior do desenvolvimento desse indivíduo: uma “ambiência”, com Halo e Presenças com as quais ele irá “dialogar” pelo resto da vida. No livro já citado por mim algumas vezes, leitura obrigatória para especialistas, “Quem é o Sonhador Que Sonha O Sonho”, o subtítulo “ Um Estudo de Presenças Psíquicas” mostra quão bem James Grotstein captou o essencial da coisa toda. E tem mais algo a ser observado: como essa identificação só ocorre com o lado sombrio do numinoso, não imaginem que a “criança se orgulha” de ter essas experiências extraordinárias. Embora elas lhe deem a sensação de ser “única” ou “especial”, esta experiência mais acua e humilha do que exalta, ainda que alguma ambivalência possa se construir ao longo do tempo, numa espécie de sensação de se ser um “maldito-eleito” [essa era a sensação de Jung, caso se leia sua biografia], ao modo de Jó, por exemplo. Nada a ser invejado, portanto, como pensam, ingenuamente, aqueles que fantasiam que os feridos “fantasiam pseudo-problemas para si próprios, a fim de auto-engrandecerem” [sic]. Já ouvi observações de incautos exatamente neste sentido.

Unindo os dois trechos que eu selecionei da monografia de Álvaro Ancona de Faria, vale a penas retomar a listagem de proposições que eu apresentei lá atrás, no capítulo II deste meu ensaio: “As Bases e a Moldura da Proscrição: Proposições Iniciais”. Vamos só à listagem das tais proposições, remetendo o leitor à (re)leitura daquela capítulo [que, agora, pode ser (re)lido sob nova luz]. Ei-las:

1) Ele se sabe portador de uma diferença.

2) É “não-aceito” por causa disso [prefiro dizer "é não-aceito" do que "não é aceito"; a “coloração da expressão” é mais forte].

3) O Olhar Coletivo denunciou para ele essa diferença.

4) Por causa disso, ele desenvolveu um mundo peculiar [e inimaginável para a condição coletiva média, frise-se] de solilóquios precoces, perguntas angustiosas e sem cúmplices [sem testemunhas] sobre sua própria condição.

5) Essas perguntas evoluem para “perguntas existenciais precoces” [sobre a razão da diferença, justiça/ injustiça da vida, Deus ou Castigo e coisas que tais], para uma “auto-observação angustiosa e cindida” e para uma “hipervigilância em relação ao ambiente” [“quando serei atacado?”; “serei ridicularizado mais uma vez?”, “o que estão falando ou pensando de mim?”, etc e tal].

6) Essa hipervigilância faz com que o sujeito aprenda, cedo [por razões defensivas] a captar nano-impressões do ambiente em relação à sua identidade e à segurança dele [dele=sujeito; a partir da aguda percepção da diferença do Olhar Coletivo sobre ele]. Torna-se, então, um sujeito “sensível” a essas nano-percepções e acuradamente ciente de elementos ambientais, sobretudo os invasivos e evasivos.

7) Essa acurácia lhe é peculiar: um elemento a mais a se somar à sua diferença de origem.

8) Essa acurácia se estende a todos os elementos de esquiva, medo, evitação ambiental em relação às suas questões [não só condenação ou proscrição]; o sujeito “lê” no Olhar do Outro: “Eu temeria estar na sua situação, e desvio o olhar de você”. A evasão/ evitação é flagrada, além de invasão. [Como dito no item 6)].

9) Por ser um “especialista em desespero”, o ferido-proscrito enxerga, capta, infere o medo e o desespero do outro; mesmo quando este desespero é disfarçado em evitação, desdém, pouco caso aparente; o proscrito detecta a fuga, enfim.

10) O proscrito, dado seu recolhimento e solidão precoces, e o gênero de questão sobre si que é levado a fazer-se [e sobre a vida] tem uma introversão bastante distinta da Coletividade Média, e uma vivência onírica [e oniróide] mais dilatada[s]: sonha mais, lembra-se mais dos seus sonhos, seus sonhos são mais vívidos e “peculiares” [bizarros, assustadores, surrealistas, persecutórios, “mágicos”, “místicos”, aterradores, etc].

11) Por essas mesmas variáveis de introversão/atenção e focalização no mundo interno, o proscrito se lembra mais de pesadelos e é mais suscetível a estar ciente de experiências hipnagógicas [aquelas que se dão entre o sono e a vigília].

12) Assim sendo, podemos dizer que as condições peculiares aos místicos, médiuns e xamãs [nas sociedades ditas primitivas] costumam se desdobrar a partir dessa moldura-de-proscrição.

13) Sim; estou afirmando que os elementos de atenção e ciência das nano-percepções ambientais + sutilezas do mundo interno e da Evitação Coletiva[uma das Faces da Sombra Coletiva] faz do proscrito um intérprete potencial dessa mesma Sombra Coletiva [tudo o que escapa à Cultura], nos moldes clássicos do místico, do médium, do xamã, e também do “outsider contracultural”, do crítico da cultura [aquele que se “insere pelo avesso”], e do “porta-voz do Excêntrico e do Oculto”.

14) Como é marcado pela imagem, mas também pela “marca e ferida decorrentes do Olhar Coletivo" [Olhar do Outro Externo], o ferido-proscrito desenvolve o relacionamento em termos Numinosos [sagrados] com o Outro-em-Si-Mesmo, sentido como Outro-Dentro-de-Si [Deus, Demônio, Numina]; por isso é dado a insights ou “desvios percepcionais” místico-religiosos, segundo a ênfase cultural e o contexto observacional.

15) Essa condição de ter a auto-imagem e identidade marcadas pelo Olhar Invasivo, Rejeitador e Reprovador [um olhar que aglutina essas três características], somada aos tais relacionamentos internos maximizados e cindidos [já estando os externos comprometidos, por “isolamento do sujeito complementar ao repúdio-evitação dos outros”], faz com que a constelação interna do proscrito envolva muito mais do que a situação típica proposta no Mito de Narciso [ter de conhecer-se a fundo, sob pena de ficar fixado em si mesmo]. Por exemplo, a situação de distância irremediável do Objeto-Mundo sempre a lhe escapar da mão e da voz [a distância do Outro, e de não-poder alcançar seus objetivos em comunidade] também lhe marca fundamente a identidade. E essa situação, além de figurada no mito de Narciso, também pode ser melhor explanada em Tântalo. A situação do proscrito inclui o drama de Tântalo.

16) A situação das cisões internas [“pedaços de eu observando e zelando por outros pedaços secretos e ocultos do eu”] também o coloca na “condição do pulverizado por Deus” [pelo “Olho Vígil de Dentro”]. Essa seria, por exemplo, asituação prometéica de ser pulverizado [=bicado pela águia, ad aeternum] por trazer um “fogo solitário à terra dos homens comuns”.

17) Seria essa, também, a situação dos Maruts pulverizados por Indra desde o útero [da deusa Diti], por “rivalidade fálica a priori” por uma “diferença/superioridade suposta” [algo mais sério e anterior ao Édipo Clássico, que inclui o Édipo e lhe subjaz].

18) Seria, ainda, a situação de Jó sendo pulverizado pelo conluio Jeová-Satanás, segundo os moldes da narrativa Antigo-Testamentária.

19) Assim, as condições de Tântalo, Prometeu, Jó, dos Maruts [entre outras mais, como também a “Justiça Trágica, entendida como Nêmesis”, que ainda veremos...] fazem parte da “condição do proscrito” tanto quanto o mitologema de Narciso.

20) Para fazer justiça à Tragédia Pessoal do proscrito temos, então, de enxergar toda a constelação de seus impasses “em bloco”: precisamos ver o quadro todo. Só assim poderemos, efetivamente, ajudá-lo.

21) Isso porque, este quadro todo coloca todo proscrito numa situação ímpar que é, ao mesmo tempo, de isolamento social, “solidão cognitiva” [“os outros não sabem o que eu penso, nem veem o que eu vejo”], culminando numa precoce e funda “solidão ontológica” [“o mundo nada sabe de mim, nem saberá”].

É sempre bom relembrarmos tais “bases e proposições” do capítulo II, para podermos avançar com maior clareza.

Voltando à nossa criança, que “vela pelos pesadelos da mãe, enquanto engole os seus próprios terrores para acalmá-la/acalmar-se”. Pois, se assim não fizesse [assim ela “sente”, mesmo sem saber dizê-lo...], amplificaria a aflição de ambas. Pois bem, esta criança foi instada a ser “mãe da mãe”. Passará a ter seus próprios pesadelos indizíveis, se é que já não os tinha, pela ambiência ambígua do Sagrado estar tão irmanado ao Terror. Seus sonhos serão tão indizíveis para os outros como seria dizer para alguém sobre o que fosse uma múmia, sem conhecer a palavra, nem saber falar de ataduras, esparadrapos, ou o híbrido-paradoxo “morto-vivo”. Tão difícil de dizer [e tão “improvável” aos outros] quanto sonhar que sua fala pulveriza seus pais com um raio, que o pastor batiza crianças no sangue derramado num convés de navio por decapitação dos adultos seus pais [o sonho de uma criança já citada por mim, em outro capítulo], ou de estar andando sobre lhamas numa cidade holográfico-terrorífica, sem nunca ter visto uma lhama, nem conhecer a noção de “holograma” [o sonho de uma criança de onze anos de idade, com histórico de medos e segredos]. O leitor que me acompanha consegue conceber a “singularidade” dessas situação?! Para a criança [e para o adulto que ainda não resolveu sua “equação pessoal”] ela está numa situação única, indizível, irrepetível, como único ser humano marcado nesta Terra a guardar tamanho segredo. É claro que há muitos “únicos-diferentes” por aí, mas isso ela [nem seus pais, nem seu ambiente parental] ainda não sabe(m). E o pior será se alguém que pretender cuidar dela também não o souber! O leitor que vem me acompanhando há de se lembrar [ou retomar] o capítulo VIII deste meu ensaio, quando conto o caso de Emannuel Bresson, diagnosticado como esquizofrênico. Eis o parágrafo onde conto sua vivência onírica particular, que desencadeou seu surto ou contribuiu para configurá-lo, como alicerce e moldura subjacentes. Observe o leitor quão numinoso e sombrio é este enredo, e quão atípico, em todo o seu desdobramento. Não é difícil entender como [e o quanto] uma criança possa se sentir diferente ao ler tal vivência onírica, por sua atipicidade que aterrorizaria mesmo um adulto, o que dirá alguém em estágio tão precoce do desenvolvimento.

“Vamos ao sonho, emblemático. Há uma Música que nunca se ouvira, majestosa, permeando o Jardim. A música é grandiloquente e parece emoldurar, com perfeição, a Vida ali representada, com tudo que Ela comportaria. A Música Perfeita Inimaginada. O cenário é sonoro, além de plástico. Uma nota sai do lugar. Uma única nota, destacada. Toda a música se rearranja a partir dessa desconstrução, até representar a Cacofonia ou Caos mais Absoluto, de Aterrador e Insuportável. O cenário sonoro se inverte. Isso se faz acompanhar de uma inversão no cenário plástico, concomitante e correspondente: as plantas e flores passam a crescer em direção ao “dentro da Terra”. Cacofonia Absoluta e Vida Introvertida ao Útero Telúrico Primal. A percepção do conjunto é aterradora, faz o menino suar e “se ver sonhando” [enquanto sonha, sem sair do sonho], vendo-se na cama, com os lençóis sujos por baldes de imundície. O sujeito dejeto é recoberto por fezes ou esgoto. Isso se repete, com nuances. Numa das vezes, o menino se vê correndo em meio a essa paisagem invertida e cacofônica, sobre quatro patas, como um animal. Corre e corre para fugir da música e da Vida que se inverte. Sonha-se como um tigre, e acorda montando sobre a preceptora que dorme na cama ao lado, tendo ela cerca de setenta quilos. Ele é um “tigre apavorado e raivoso”, quando acorda. Luta por sua sobrevivência. Que ninguém seja tão apressado ao imaginar a cena primária freudiana [o coito dos pais] em episódio tão rico e nuançado. A partir daí, o diagnóstico se corroborará ao longo dos anos, ao longo do futuro-sem-futuro. Tempo e espaço na esquizofrenia são como sonhar acordado, já o percebia Joseph Berke, um dos psiquiatras a trabalhar com Ronald Laing, o célebre autor de “o self dividido”. Não por acaso, o propositor e porta-voz da linha de "entendimento da linguagem na loucura” [que repercutia os “nós cegos” da linguagem do grupo social-familiar] consagrada como “antipsiquiatria”. Se tempo e espaço na esquizofrenia são semelhantes a um “sonhar acordado”, são inteligíveis para um bom intérprete de sonhos.” Este é o sonho experienciado por Emannuel [“Quem é O Sonhador Que O Sonha”?] em torno dos seus seis/sete anos de idade. 

Jung, diante dos seus sonhos mais numinosos, também se perguntou: “De Onde Veio Isso?” “Quem me Enviou ou Obrigou-me a Tais Pensamentos”? Em sua autobiografia, escrita [narrada a Aniela Jaffé] aos 83 anos de idade, Jung deixa bastante clara sua perplexidade inicial [que perdurou por toda a vida, ainda que ele soubesse elaborá-la] diante dos primeiros sonhos. E revela que, alguns deles, só viera a relatar seis décadas depois, aos sessenta e cinco anos de idade, tamanho o seu pudor em apresentá-los. Muitos, ele levou trinta anos para entender ou decodificar. Minha pergunta: isso “humilha” ou “orgulha” tal “sonhador”? Pode criar inflação em alguns, como a leitura atenta do Livro Vermelho o demonstra. Pode, ainda, orgulhar e humilhar, ambas as coisas. Na mais dolorosa das hipóteses: só humilha e acua. No caso do Numinosos Sombrio, é isso que costuma ocorrer, majoritariamente. O pudor [medo, tirando-se o eufemismo] em se contar tais sonhos aos outros costuma decorrer do "medo do medo dos outros" e seu corolário: esquivas, suspeitas, pasmo, espanto, desconfiança, incredulidade, acusações e proscrição por parte do ambiente. Material mais glorioso ou auto-enaltecedor [também por vezes presente], causa outro tipo de pudor, mais misto. Pode encontrar desconfiança e plateia, ambos.

Aplicando todo este raciocínio à criança de nosso exemplo, é forçoso que eu faça algumas afirmações contundentes e categóricas, para dissipar escamoteamentos e confusões: tal criança ferida não esconde instintos dos quais tem vergonha, desejos inconfessáveis relacionados a pai ou mãe; ela não tem medo de ser acusada de “impudica” ou “desavergonhada”. Ela tem medo de ser uma pedra de escândalo pela estranheza, espanto, incredulidade que causará. A palavra chave é esta: incredulidade. Uma incredulidade apavorada ou desconfiada: ela tem medo de que não acreditem nela, de jeito algum. O mesmo “pudor/terror sagrado” [ou “silêncio sagrado”] de Jung quando criança

O tipo de fantasia dessa criança, e seu isolamento, lembram algo do desenvolvimento daqueles que “viram algo muito forte muito cedo”. Essa é a ferida pelo ver [que inclui o ouvir]. E não foi o sexo! Os sonhos improváveis de Jung [o primeiro aos três anos], ainda que remetessem a “falo” numa leitura bem a posteriori, envolviam muito mais: trono, deus subterrâneo, abóbada [nenhuma abóbada havia sido vista factualmente por ele, segundo qualquer rastreamento mnêmico ou familiar], medo de jesuítas, mistura da imagem de Jesus [e, por extensão, dos jesuítas] como “devorador(es) de crianças-bolinhos” antes que o Diabo viesse comê-los, segundo uma oração cantada que sua mãe lhe ensinara, na qual as Asas de Jesus protegiam as crianças-pintinhos do assalto de Satanás durante o sono. Isso é tão ruim quanto as sádicas canções de ninar [Boi da Cara Preta, “Cuca vem pegar”, e outras peças que tais]. Imagine o leitor deste ensaio a seguinte situação que seria patética, não fosse o desamparo infantil implicado na situação. “Ouça” a melodia clássica, please: “Dorme nenê, que a Cuca vem pegar, papai foi pra roça, mamãe volta já” [em uma de suas versões mais simples e consagradas]. Beleza. O leitor, por certo, terá acompanhado a letra, com entusiasmo infantil. Alguém embala a criança, solicitando que ela durma. Se ela entender minimamente o que está sendo dito, não dormirá. Quem pede à criança que ela durma, não é a mãe! [Esse é o primeiro impasse]. Avisa que quando ela dormir, será pega pela Cuca, e que o pai e a mãe estão fora. Pois bem, uma das conclusões possíveis [e das mais óbvias] será a seguinte: a criança é vítima de um engodo-trapaça que envolvem pai, mãe e Cuca. E quem está embalando a criança e solicitando que ela durma sem demora é a própria Cuca [um substitutivo tenebroso da própria mãe, uma mãe falsa, um “duplo sombrio da mãe”], para pegá-la, comê-la, matá-la. E pior, com o consentimento de pai e mãe, que a deixaram entregue a esta impostora que agora canta. Ora, ora, meu Deus. Será inesgotável o sadismo dos adultos?

Deixando de lado essas edificantes canções de ninar e suas prováveis e terríficas implicações [sobretudo na falta de bom ambiente parental, ou na “dupla falência parental”, como bem diz Paris ao definir o contexto dos grandes feridos], faço aqui duas sugestões de leitura: quem quiser ver o desdobramento desses segredos, bem como as “reflexões infantis” [muito mais imagens do que reflexões; na verdade, prolixas e precoces reflexões suscitadas por imagens], pode acompanhar, com proveito, os dois primeiros capítulos das Memórias de Jung [“Memórias, Sonhos, Reflexões”: “Infância” e “Anos de Colégio”], ou os dois primeiros capítulos das memórias de Alan Watts [“Em Meu Próprio Caminho”: “O Bosque Petrificado” e “Tantum Religio”]. Ambos não sofreram abusos massivos, nem tiveram pais tiranos, mas já se sentiam “à parte”, pelas questões que se faziam, em segredo [às vezes, por falta de simples vocabulário e confiança no mundo adulto, mesmo que este mundo não seja “agressor”, mas pareça “alheio a estas questões”, como nos dois casos citados]. As infâncias de ambos, no geral, estão longe de serem “infâncias aterradoras”, bem pelo contrário. Mas as perguntas irrespondíveis de Jung, suas dúvidas religiosas a partir das conversas que entreouvira do pai, seu medo dos jesuítas e sua associação com “orações infantis” já foram suficientes para desencadear nele muitos sonhos e visões hipnagógicas assustadoras, como halos de cabeças em meia Lua, pairando sobre o ar, saídas do quarto de sua mãe. Além de “jogos de identidade” bastante curiosos, como sentar-se numa pedra e pensar se a pedra o estaria imaginando, e não ele a ela. [Cifra: o sonho de Chuang-Tsé]. Se uma criança senta-se no escuro, e imagina que está fora do quarto, ou que seu corpo está na horizontal, quando ela está imóvel, ou que ela está no canto oposto do quarto mirando a si mesma; quando uma criança aprendeu a se sentir desincorporada, desde quando sofreu uma cirurgia de garganta [aos dois anos], quando parentes e enfermeiro lhe seguraram na cadeira enquanto o médico lhe extraía amígdalas e adenoide, e ela não sabia de nada, e “viu seu pai vê-la sofrer sem fazer nada, nem dizer palavra”; quando tais “jogos de posições” acontecem, e a criança “se evade” e “imagina não estar onde está”, e passa a ter pensamentos-fantasias bizarras sobre sua posição corporal, a ponto de ter de se levantar de uma cadeira de barbeiro quando este a inclina para lavar-lhe a cabeça, e tem de fazer isso com sentimento de urgência, “para se sentir sendo” [com medo de “evadir-se”], ou outra criança tem de se cortar [pernas, braços, com estilete] “pra se sentir com um corpo”, etc e tal, não estamos falando de agressividade edípica reprimida [raiva da impotência do pai, diante da agressão sofrida, por exemplo], ainda que elementos edipianos possam ser supervenientes, no quadro, em seu conjunto. Ainda assim, estamos próximos dos terrores primários dos medos impensáveis de Winnicott [queda-sem-fim, vertigem infinita, ter mente desincorporada, espírito-pensamento sem corpo, dissociação, desincorporação], coisas que pressupõem um registro muito precoce de trauma, medo e segredo. Estamos no registro do indizível [tão colado ao Impensável], e não do interdito [tenho vergonha de beijar mamãe e papai me arrancar o pinto]. Não, não. Temos de olhar a coisa na sua funda e precoce seriedade. Na sua “Numinosidade”. Estamos falando de âmbitos míticos mais difusos. A ambiência não é do Édipo e sua triangulação. Estamos num âmbito de terrores tão difusos e profusos [tais quais os desta menina que “consola a mãe” do medo dos “Deuses” /das “surras de santos”] que precisamos ouvir as Feras Rugindo ao Fundo [perto das quais, Cérbero talvez parecesse um mero cãozinho doméstico]. Estamos no Ambiente de Nyx, das Lâmias [luas esvoaçantes saindo dos quartos; a propósito, ver meu poema “Infância de Camila”, que trata justamente disso], do Hades. Estamos no âmbito de terrores de identidade e dessa identidade ser ameaçada e não-crível: antes de mais nada para os outros e, por deflexão sobre si mesma, para si mesma! “E se só eu vir o quadro se mexer, sem nenhuma testemunha?!” “E se só eu vir a figura mudar, à minha frente?!” E se a estátua do jardim se mexer, e só eu vir, e quando chamar meu pai, ela voltar à posição de antes e ele me bater?!” [A criança, certamente, não conjugará o verbo assim: ela dirá "e se só eu 'ver', mas tirando a incorreção gramatical inevitável, o pasmo será o mesmo...!]. Esse tipo de medo primal, como a dúvida de Jung se era pedra ou pessoa, tendo de se levantar [e talvez sacudir a cabeça!] pra saber que ele era ele mesmo [!] é o típico medo não-edipiano [medo de não-ser, ou ser-tão-só que não sabe que é, ou se é] classicamente narcísico, ou esquizóide. Quem quiser aplicar o Édipo nestes casos, estará falhando redondamente, e agravará a ferida. 

Inspirado em Nathan-Schwart-Salant, Álvaro Ancona de Faria define os aspectos transferenciais [e contratranferenciais] com pacientes limítrofes como sendo do tipo de polaridade Jó-Jeová, ambos se experimentando em ambas as posições. James Grotstein define a mesma vivência com feridos graves [esquizóides e limítrofes] como sendo da ordem de Pietà-Cristo, ambos se experimentando em ambas as posições do binômio. São constelações transferenciais bastante “desconcertantes” para quem só tem o Édipo em vista, e bem menos erotizadas do que o previsto. E quando Édipo espreita a cena é como elemento superveniente, e nunca como “tônica”, tal como seria o caso da nota dominante num acorde. O Édipo não é esta corda. Jó pode ser. Jeová pode ser. A Mãe Enlutada pelo Deus Sacrificado pode ser. Cristo [o Mártir, a “Testemunha Solitária da Verdade”] pode ser. Vou tratar melhor dos vetores transferenciais no próximo capítulo. Sísifo pode ser. Prometeu pode ser. Hefesto pode ser. Cassandra, muito provavelmente. Íxion pode ser. Pélops pode ser [Cifra: Édipo como elemento superveniente, não dominante]. Tântalo pode ser. Narciso, idem. Mas não Édipo. Isso para ficarmos na mitologia grega, mais conhecida e popular. Mas, perceba-se, que os autores acima citados escolheram modelos bíblicos para melhor definirem os padrões transferenciais-contratransferenciais nas análises de tais pacientes. Não por acaso, trata-se de um Texto Sagrado. “O Halo do Sagrado envolve o Segredo”. Sempre. Nesses casos mais graves, sempre. Eis a grande questão, muitíssimo mal compreendida, em geral.

O segundo exemplo é só pra reiterar quantas “mães de mães” existem por aí, sem poderem falar dos seus segredos. A menina de sete anos não dorme esperando sua mãe voltar pra casa. Mãe solteira. Chega drogada, bêbada, de madrugada, às vezes entra no banheiro e se corta. [Sim, a mãe é borderline]. A menina só pode intuir os homens perigosos que a mãe encontra [vez por outra já viu algum, com arma e droga na jaqueta]. De dia, a menina passa por “aluna preguiçosa”. Passa a se isolar na escola, e é vítima de bullying por seu “alheamento”, bullying este favorecido pela acusação da professora dela ser preguiçosa e não corresponder “aos esforços da mãe em educá-la sozinha” [mãe solteira]. O círculo se fecha. Risadas e provocações das outras crianças. Entregar o segredo da mãe à professora que já a desqualificou e pré-definiu a mãe?! Tirar a professora de sua cegueira?! Abordar a própria mãe sozinha, sendo a família constituída só pelas duas, e “cada uma só tendo a outra pra dividir o zelo por ambas”? (sic) O leitor que me acompanha deve visualizar a triste situação dessa criança, e a arapuca na qual ela caiu [e para a qual ela, criança, não vê qualquer saída]. Eis uma situação que o olhar adulto [e que falta de acuidade dessa professora...!] precisa flagrar para haver intervenção. 

O olhar silencioso que vê sozinho, além de arrumar inimigos e incrédulos-por-antecipação [sim, pois dadas as premissas de base, a criança “nem ousa ‘experimentar dizer’ o que se passa”], acaba por se tornar um olhar sem pálpebra que tem de vigiar, dia e noite, mãe e criança. E no caso [ainda mais grave] da primeira criança, o Terror passa a ser um Olhar sem Pálpebra que a assusta a partir de Dentro também, enquanto ela cuida desse medo e dos medos da Mãe. Uma espécie de olhar de Hórus como sol inclemente, como sol cáustico, o Olho Que Nunca Fecha e, que por sua própria “voltagem”, acaba por esterilizar toda a Terra, transformando-a num Deserto.











Marcelo Novaes






Bibliografia sugerida:




Abram, Jan. (2000) A Linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter.

Brandão, Junito. (1993) Dicionário Mítico-Etimológico. Vols. I e II. Petrópolis: Vozes.

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